O projeto tem como eixo a articulação de saberes no campo
da litografia*, sua história e procedimentos técnicos aplicados ao projeto de
restauro das pedras litográficas da antiga Livraria e Editora
Globo.
Em
2009 um lote de pedras litográficas pertencentes à antiga gráfica da Editora
Globo foi doado à Oficina de Litografia do Atelier Livre pela Livraria do
Globo. Inúmeras dessas pedras possuem registros de rótulos de produtos, imagens
desenhadas e ainda vestígios de letreiros e estampas decorativas utilizadas na
impressão de imagens comerciais e artísticas. Entre estas pedras, por exemplo,
encontra-se um diploma da Faculdade de Medicina datado de 1912 e um rótulo de refrigerante
com referência à oficina dos Irmãos Weingartner.
Como coordenadora e professora da Oficina de Litografia,
venho, desde então, estudando este acervo sui generis, riquíssimo tanto sob o
ponto de vista da memória cultural do Estado, bem como pelo aspecto artístico,
tendo em vista que, provavelmente estas estampas foram desenhadas no período de
maior produtividade da Editora Globo quando, em sua Secção de Desenho lá
trabalhavam importantes nomes como Edgar Koetz, Sotero Cosme, Nelson Boeira
Faedrich e Francis Pelichek, na primeira metade do século XX.
A restauração destas matrizes litográficas será realizada
utilizando-se conhecimentos técnicos da litografia e impressão litográfica, na
Oficina de Litografia do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre, espaço
fundado por Danúbio Gonçalves e referência nacional no ensino da gravura, bem
como em produção artística. O projeto Memória da Litografia: as pedras mágicas
da Editora Globo prevê a catalogação, restauro e impressão das 30 pedras
litográficas que constituem este acervo. Serão feitos testes com vários
produtos químicos, provas de cor, registros fotográficos e anotações sobre este
delicado processo.
A etapa final, prevista para os próximos 12 meses e objeto
deste projeto, é a publicação de um
livro contendo a descrição e o registro fotográfico de todo o processo acima
descrito, desde a recuperação das pedras litográficas até o processo de
impressão. O livro ainda conterá um texto introdutório sobre a técnica da
litografia e sua história em Porto Alegre, destacando-se a antiga Editora
Globo. Como fechamento do trabalho, o projeto prevê ainda, na ocasião do
lançamento do livro, uma exposição das pedras restauradas, suas impressões e
palestras abordando o tema da pesquisa.
*A
litografia é uma técnica de impressão gráfica anterior ao offset, que utiliza
uma pedra litográfica como matriz para
posterior impressão em papel. Foi criada em 1798, pelo alemão Alois Senefelder
a partir de uma necessidade essencialmente comercial. Inicialmente ligada à
produção gráfica de jornais, livros, rótulos ou calendários, foi pouco a pouco acolhida pelos artistas como
linguagem expressiva.
A técnica chegou ao Brasil em 1818, através de Julien
Palliere, artista francês contratado por D. João VI para fazer retratos e
paisagens. No Rio Grande do Sul, a partir de 1849, destacam-se a litografia do
Comércio, a Litografia Weingartner e a Litografia da Editora Globo, fundada em
1883 uma das mais conhecidas no Brasil, produzindo livros, periódicos e
ilustrações. Em 1905, com a invenção do offset, as litografias foram sendo gradativamente
desativadas, passando seus equipamentos ao uso exclusivo dos ateliês artísticos.
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